Obra: À instabilidade das cousas do mundo
Nasce o sol e não dura mais que um dia.
Depois da luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o sol, porque nascia?
Se é tão formosa a luz, porque não dura?
Como a beleza assim se trasfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no sol e na luz falta a firmeza;
Na formosura, não se dê constância
E, na alegria, sinta-se tristeza.
Começa o mundo, enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza:
A firmeza somente na inconstância.
Autor: Gregório de Matos
A obra está situada na escola literária do
Barroco, e nessa poesia analisada, é clara a presença de antíteses- “Depois da
luz se segue a noite escura” (luz e escuridão). O poeta demonstra pessimismo
diante da vida terrena, fazendo questionamentos como no verso “Se é tão formosa a luz, porque não dura?”. Encontramos também, a presença de paradoxo (antítese
exagerada) nas 3ª e 4ª estrofes –“ E na alegria sinta-se a tristeza” “A firmeza
somente na inconstância”.
A temática da poesia consiste em uma
reflexão moral e filosófica. O autor retrata uma transformação contínua dos
elementos, onde a felicidade dura um tempo determinado, porém percebe que a
beleza se encontra nesse vai e vem.
O eu lírico expressa-se em 3ª pessoa,
expondo de forma objetiva as angústias e insatisfações que estavam extremamente
presentes na vida das pessoas daquele período.
A poesia analisada é trata-se de um soneto,
sendo composta por 14 versos, divididos em 2 quartetos e 2 tercetos.
Nas/ce o/ Sol/ e /du/ra/ mais/ que/ um/ dia
De/pois/ da/ luz /se /se/gue a/ noi/te
es/cu/ra
Em/ tris/tes/ som/bras/ mor/re a/
for/mo/su/ra,
Em/ con/ti/nuas/ tris/te/zas/ a a/le/gri/a
A partir da metrificação de uma das
estrofes, podemos perceber que os versos do soneto acima são decassílabos, ou
seja, com dez sílabas poéticas.
Na poesia lírica de Gregório de Matos, há
uma intensa relação do conteúdo com o título, onde mostra claramente a
transformação e impermanência das coisas que o autor considera belas. Destaca-se
dessa forma, o questionamento do eu lírico em relação a essa instabilidade;
como mostra a estrofe abaixo:
Porém, se acaba o sol, porque nascia?
Se é tão formosa a luz, porque não dura?
Como a beleza assim se trasfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
As figuras de linguagem presentes na poesia
são: antítese, paradoxo e metáfora.
Quanto as rimas, podemos dizer que são
interpoladas (ABBA ABBA CDC DCD).
Nasce o sol e não dura mais que um dia. - A
Depois da luz, se segue a noite escura, - B
Em tristes sombras morre a formosura, - B
Em contínuas tristezas a alegria. - A
Porém, se acaba o sol, porque nascia? - A
Se é tão formosa a luz, porque não dura?
- B
Como a beleza assim se trasfigura? - B
Como o gosto da pena assim se fia? - A
Mas no sol e na luz falta a firmeza; - C
Na formosura, não se dê constância - D
E, na alegria, sinta-se tristeza. - C
Começa o mundo, enfim pela ignorância - D
E tem qualquer dos bens por natureza: - C
A firmeza somente na inconstância. - D